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| O ex-cabo do exército, Carlos Alberto Frank. |
A diretoria da FRACAB, em homenagem ao ex presidente Carlos Franck, transcreve reportagem, que conta uma passagem da vida deste lutador social.
Não há dúvida que a época mais melancólica da vida do cabo Frank foi o período em que esteve no cárcere ou fugindo dos seus ex-colegas de profissão. Durante o período em que esteve na clandestinidade, Carlos Alberto Frank enfrentou situações complexas e inusitadas. “Se por um lado fui preso porque um ´companheiro` me delatou, por outro encontrei a solidariedade de onde menos esperava”, avalia.
Franck conta que um capitão, do qual jamais irá revelar o nome, foi a sua casa para lhe levar um pacote de dinheiro. “Isso aconteceu logo após a minha expulsão das Forças Armadas.Tentei recusar, mas o capitão me pegou pelo braço e disse que aquele dinheiro havia sido entregue pelos meus colegas, que faria muita falta a cada um deles, mas principalmente faria mais falta para mim. Coloquei meu orgulho de lado porque senti que a tropa estava solidária comigo, de fato estavam preocupados com o que poderia me acontecer e realmente estavam certos porque aquele dinheiro me foi muito útil”.
O ex-cabo afirma que não era o único militar com idéias subversivas. “Nós tínhamos um grupo forte dentro do Exército, um grupo nacionalista, muitos deles inclusive contribuíam para o partidão (PCB), por isso aceitei o dinheiro que me ajudou muito mesmo. Naquela época eu já tinha três filhos”, explicou. Do período da sua expulsão do Exército até ser preso novamente, Frank viveu em várias cidades no interior do Rio Grande do Sul, do Paraná, na fronteira com o Uruguai e com a Argentina. “Participava de atividades da ALM e do PCBR e nós tínhamos um grupo que sabia das principais ações revolucionárias do estado, com ramificações no São Paulo e no Rio de Janeiro”. Franck diz que a organização ao qual pertencia era propositalmente desestruturada. “Eram pequenas células que facilmente podiam ser dissolvidas e por serem pequenas nos ajudavam a fugir da repressão”.
Na clandestinidade, longe da mulher e dos filhos, Franck vivia se escondendo para não ser preso. Não foram poucas as vezes em que precisou dormir no cais do porto, dentro de um vagão de trem e até mesmo em uma canoa. “Uma vez havia um cerco em Porto Alegre, sabiam que tinha gente nossa agindo próximo ao Cais do Porto e montaram blitz em todos os acessos. Fiquei quase uma semana dormindo no meio dos sacos de arroz, dentro de um armazém, com ajuda de estivadores simpáticos à nossa luta e à organização”.Carlos Alberto Frank lembra-se dos dois anos e meio de prisão com muita tristeza. Ele conta que no período que ficou isolado em uma solitária achou que ia enlouquecer. “Os dias na prisão eram intermináveis e eu estava perdendo a noção das horas”. Detido sem qualquer ordem judicial, condenação ou fundamento legal, o ex-cabo foi interrogado inúmeras vezes, passou por sessões de tortura física e psicológica. “Me colocaram em uma cela escura, sem banheiro, a comida era misturada a porções de terra e servida fria. Retiraram o papel higiênico, a minha escova de dentes e não me deixavam tomar banho, nem fazer a barba”, conta Franck. O ex-cabo diz que este tratamento desumano era parte da estratégia dos seus algozes para que se sentisse humilhado. “Me transformaram em um verdadeiro indigente. Mas eu não perdi a consciência do que estava ocorrendo. Achei que iam me matar e então decido morrer com dignidade”.
Franck conta que no Exército sempre foi determinado e isso ajudou muito no período em que esteve no isolamento. Como não tinha relógio, Franck não sabia se era noite ou dia. Passou a se orientar pela troca da guarda. “Para não enlouquecer, levantava junto com a tropa e ficava andando na cela, que tinha no máximo quatro metros. Fazia diversos trajetos caminhando sem parar dentro daquele pequeno espaço. Intercalava as caminhadas com exercícios, mas percebi que só isso não iria adiantar e eles realmente iriam conseguir me deixar louco mesmo. Então, passei a exercitar a cabeça. Enquanto caminhava me lembrava de livros que havia lido, de temas importantes para a sociedade da época, romances, poesia”.
Franck lembra com humor de algumas passagens durante a ditadura militar. Em determinado momento, o ex-cabo resolveu reagir às péssimas condições no cárcere. Conta que havia guardado pequenos pedaços de papelão, retirados dos rolos de papel higiênico. Um dia um preso da cela ao lado lhe ofereceu uma caneta. “O camarada atirou no corredor a uns dois metros do meu alcance. Fiz um canudo, com os jornais que estavam empilhados e onde eu dormia e “pesquei” a caneta. Depois escrevi um bilhete relatando as condições precárias na prisão. Escrevi o título: “bilhete nº 1, enderecei para a minha mãe e joguei o papelão no corredor”. Passados dois dias, Frank escreveu um novo bilhete, trocou apenas o título, onde escreveu bilhete nº 3. O bilhete foi novamente atirado no corredor que dividia as celas.
“Minha intenção não era de que alguém entregasse a carta para minha mãe, mas chamar a atenção dos oficiais para as condições desumanas que eu me encontrava”. Poucas horas após jogar o bilhete nº3, um oficial invadiu a sua cela, querendo saber onde estava o bilhete nº 2. Frank falou a verdade ao oficial, que havia escrito as cartas para chamar a atenção e com isso melhorar o tratamento ao qual estava sendo submetido. “Disse a ele que nem um cachorro sarnento era tratado daquela forma. O oficial ficou em silêncio, estava muito irritado, me escutou a contragosto, em seguida me fez algumas ameaças. E foi embora”. Dois dias depois, continua Frank, “eu tinha escova de dentes, papel higiênico, pude fazer a barba e tomar banho. Foi uma “história engraçada e uma conquista importante para aqueles dias difíceis”.
Quando o assunto é falar da organização, do seu funcionamento estratégico e quem eram os líderes, Franck desconversa. “Não gosto de citar nomes, acho que é um cacoete daquele tempo, mas prefiro não entrar nos detalhes. Tem gente muito assustada até hoje”. Apesar disso, o ex-cabo está organizando documentos que comprovam a atuação e o tratamento dado aos presos políticos no estado. “Um dia ainda pretendo fazer uma lista com o nome dos principais torturadores e de seus chefes”, anuncia.
fonte: www.distbrasil.com/N-%20frank%202.htm
Manifestações contrárias às torturas e mortes durante o
regime militar e presos trocados após seqüestro de embaixador.
regime militar e presos trocados após seqüestro de embaixador.




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